terça-feira, 22 de junho de 2010

homenagem

* 22/08/1940

+20/05/1994

Mãe, que falta eu sinto

Não do bolo (que você nunca fazia)

Mas de você, só você

Sinto falta do olhar

Feliz e completo do Papai

Quando estava com você

Todos os dias

Sinto falta do seu cuidar

Do “seu” Quinzinho,

Meu irmão , que transformei

Em “meu”Quinzinho

Todos os dias

Sinto falta de tudo

O que você poderia

Acrescentar para a

“nossa”Fernandinha

Todos os dias

Sinto falta de querer

Ser como você,

Todos os dias.

Agora, só imagino

E tento ser um pouco

Quem você seria

Todos os dias.

Testamento

Testamento

Minha querida filha,

Acredito que seja minha última chance de te falar algumas coisas. Filhinha, não chore, sabíamos que hoje ia chegar. Sinto sua falta já. Mas, não gostaria que você sofresse a minha. Tive uma vida muito feliz. Fiz você, que iluminou e orientou cada decisão que tomei. Vi você crescer e descobrir seu dom de ler gente. Leu meu olhar cinza e me pediu para procurar um médico. Já sabia o que estava acontecendo. Desde desse dia, fiquei imaginando o que poderia te deixar, quando meu bem mais precioso se esgotasse. Queria caber nesse papel para poder te dizer tudo que carrego em mim. Mas, me falta o ar e preciso descansar, fico feliz que esteja ao meu lado agora, participando da minha última transformação. Obrigada, minha querida, de onde eu estiver, prometo lembrar sempre de procurar sua lua no céu azul claro do dia, de comemorar seus arco-íris invisíveis porque se esqueceram de procurá-los, de ouvir os deuses chorando quando vir o sol se pondo. Será nosso segredo. Não pude caber no papel, mas saiba que você caberá em mim para sempre. Cuide bem de tudo o que você conseguir guardar de mim. Me perdoe por ter estado com você por tão pouco tempo. Prometo que apesar de ausente jamais te abandonarei.

Com todo meu amor,

Mamãe

Pátria Minha

PÁTRIA MINHA

Disse um dia um poeta:

Minha pátria, minha língua!

E eu que tenho tantas

Tornei-me apátrida.

Nasci em país livre,

pai italiano,

mãe portuguesa

Tornei-me luso-brasileira.

Cresci em escola francesa

de segunda a sexta,

Aprendi “La Marseillaise”.

Vivia francófona.

Aos poucos fui expatriada:

era estrangeira para minha vida

fosse ela na língua que fosse.

Brincava em francês com amigos,

Que não conheciam festa junina.

Sentia saudades em português,

Por falta do sentido em outra língua.

Vibrava em espanhol,

Nos versos de San Juan de la Cruz e Pablo Neruda

Cantava no telefone em italiano,

Para lembrar que Roma era minha casa.

Ia ao cinema em inglês,

Para me perder entre América, Europa e Austrália.

E chorava ouvindo o Hino Nacional

De todos os países

me escondi na elegância francesa,

no sotaque português,

na paixão espanhola,

no carisma italiano,

na certeza do inglês.

Me descobri fragmentada em diversas línguas.

Misturei os países, sou muitas pessoas

me sinto dona do mundo.

Me sinto repatriada em mim.

Sou minha pátria minha.

saudades

Todo mundo sente um dia falta de alguém
mas saudades é aquele sentimento
que vai além do vazio

Saudades é estar cheio
Cheio do tempo que passou
é uma ausência que sobra

saudades vive intrincada na gente
escondida na memória
e se atreve a vir à tona quando bem entende

Lembra o que foi
e o que nem aconteceu
é quase sonho que dói
mais do que deve

é onda do mar
é o próprio mar
saudades tem vontade própria
saudades transborda da gente
até a gente virar
a saudade